domingo, 28 de janeiro de 2018

Always

Always - Cynthia Erivo e Oliver Tompsett





Quando fechei o livro, despedi-me deles e desejei-lhes felicidades.

Que fossem felizes, que traçassem os seus caminhos e seguissem os seus sonhos. Que se lembrassem de que eu estaria sempre ali, para cada um deles, quando precisassem. Que haveríamos de nos ver um dia…

Alguns sorriram genuinamente e despediram-se também. Outros sorriram apenas...

E depois saíram como um bando de estorninhos num fim de tarde de Agosto.

Quando fechei o livro, sentei-me e fiquei só, na sala, a pensar naquelas pressas e urgências de quem tem que ir a correr viver o que ainda é preciso viver. Fiquei só, a pensar naqueles miúdos que, inebriados, iam em passo acelerado em direção aos seus horizontes, convictos – oh, néscios! – de que aqueles eram os primeiros passos que os levariam ao horizonte que buscavam. Fiquei só! A olhar e a pensar…

Nenhum se apercebeu que em cada um deles ia um pouco de mim!

Nenhum teve consciência que em cada passo caminhado me arrancavam uma memória, uma imagem, um sorriso, uma emoção.

Nenhum, já ao longe, se virou para ver o que deixava.

Olhavam em frente, olhavam para o futuro, para o que ainda não aconteceu, para o que haveriam de viver, para as promessas de felicidade, para as juras de amor, para o que ainda não chegou mais vai, de certeza, chegar.

Fiquei só e senti-me só! Nenhum se virou para ver o que deixava.

No meio daquelas mãos que se afastavam iam os momentos que construíramos juntos; eles não sabiam, mas ali, no meio daquele tropel iam as discussões, as diferenças de opinião, os desencontros, as chatices, as incompreensões, as partilhas, as confissões, as cumplicidades, os risos, as graças, as gargalhadas, as raivas, os desesperos de que comungáramos nos últimos anos.

Eles partiam, como falcões juvenis, procurando o longe e a distância, deixando para trás o ninho quente onde lhes tinham crescido as asas. Eles iam, como jovens leões, à conquista do além e do infinito, abandonando o canto escondido onde lhes tinham crescido as jubas. Eles avançavam, imponentes e seguros, sem nunca olhar para trás e sem verem os que ficavam…

Nenhum se virou para ver o que deixava.

E eu ali… só!

Tinha lutado por cada um deles. Tinha-me incomodado e irritado por todas as vezes que cada um deles não tinha sido o que podia ser. Tinha-me emocionado e festejado por todas as vezes que cada um deles tinha sido o melhor que podia. Tinha-me alegrado e agradecido por todas as vezes que cada um deles me enfrentava e defendia as suas convicções perante as minhas certezas. Tinha-me assustado e preocupado em todos os momentos em que cada um deles se magoava ou passava mal. Tinha-os criticado frontalmente por não serem o que eu achava que podiam ser e tinha-os defendido secretamente quando os outros não reconheciam como eles eram especiais.

Nenhum se virou para ver o que deixava.

E eu ali… só!

Seria preciso recomeçar tudo de novo.

Eles iam, correndo, em direção ao desconhecido. Eu ficava, sentado, sem o que eles me levavam.

Será preciso recomeçar tudo de novo!




Hoje… fecho os olhos e sei que eles andam por aí. Andam por aí construindo os seus mundos, forjando novas alianças, deixando alguns sonhos e criando projetos de vida, preenchendo os espaços em branco das suas gramáticas.

Hoje… eles andam por aí, ignorando sempre o que levaram de mim e o que de mim eles ainda têm neles.

Hoje… eles andam por aí, e nem sonham o que deles eu ainda guardo em mim! E nem sonham que hoje, a esta hora, os seus nomes, os seus sorrisos, os seus tiques, as suas mãos, as suas vozes, os seus rostos continuam à minha frente. E nem sonham que permanecerão eternamente belos e adolescentes em mim. E nem sonham… o quanto me fizeram crescer, o quanto me ensinaram, o quanto me fizeram feliz! E nem sonham… que são parte de mim,

sempre!