quarta-feira, 8 de julho de 2009

Daisies

"Haja o que houver" - José Carreras e Teresa Salgueiro


Em cima da minha secretária, do lado direito, está um grosso e pesado livro. São 450 páginas a explicar o Windows 2003 Server. Fala de muitas coisas: TCP/IP, routing services, administração de contas de utilizador, e outras que nem tu nem eu imaginámos alguma vez poderem ter o nome que afinal têm.

Em cima da minha secretária, do lado esquerdo, está um bocado de papel, rabiscado, para onde copiei um poema em que tropecei há pouco tempo.
Diz assim: “Quando a noite chega, o maravilhoso não escurece.” Foi escrito por um tal Gonçalo Tavares. Não sei quem é nem nunca tinha ouvido falar de tal personagem, mas este poema diz numa frase (a sua única frase) mais, infinitamente mais, do que todos os livros que já li sobre Informática.

“Quando a noite chega, o maravilhoso não escurece.”

Durante nove anos, foste dia.
Foste dia, foste luz, foste sombra e foste brisa.
Foste porto seguro, foste folha de diário, foste agenda electrónica e caderno de apontamentos.
Mas, sobretudo, foste voz, mão, perfume, sorriso e água fresca.
Hoje tenho a certeza que sou o que sou porque tu foste o que foste. Sei que sem ti seria outro, seria diferente e seria menos.
Hoje queria agradecer-te tantas coisas que não caberiam nesta página. Sei todavia, que não me lembraria de todas, tal como quem respira não se lembra do ar.
Quero só dizer-te que me impregnaste, que te entranhaste em mim e que vás para onde fores, “haja o que houver”, ficarás sempre em mim.

E isso é maravilhoso!

“Quando a noite chega, o maravilhoso não escurece.”

Como sabes, quando a noite chega a algum lugar, o dia não desaparece; apenas se muda para outro lugar. Se há noite aqui, há dia ali. E chegou o momento de seres dia noutro lugar. Felizes os que se vão aquecer e iluminar contigo. Aqui já é noite.
Mas o extraordinário daquele poema é que ele nos lembra que mesmo quando é noite aqui, o que é maravilhoso não escurece, não esmorece, não desaparece. Permanece... como tu!


“Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser
que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.”
Alexandre O’Neill



José Paulo Vasconcelos
Tomar, 7 de Julho de 2005